segunda-feira, 1 de setembro de 2008

(De) Alma Perdida


Esvoaço entre os sepulcros na esperança de encontrar uma identidade. Corro o mundo, espreito vidas, mas nenhuma precisa de uma alma.
Ando por aqui sem rumo e por ali sem destino. Danço com o vento sem precisar de asas e adormeço nos braços de uma árvore com o cheiro da terra molhada. Amo a chuva que não me toca e o sol que não me vê. Perco-me no tempo quando ele menos se esquece de mim e finjo espalhar as abelhas pelas pétalas que perdi. Desejo a força do Outono e a beleza da Primavera. Tenho a liberdade da Lua e a prisão de uma rosa. A felicidade de uma estrela e a dor de um espinho.
Abandonada pela terra, rejeitada pelo céu e adoptada pelo vento. Desejo o corpo que outrora tive, mas fui perdida… Largada num nada que, agora, me é tudo. Deixada no vazio do olhar de todos e na vista de nenhum. Desprezada pelo sorrir e desamparada pelo sentir. Cansada de ver o que não me vê. Enganada pela flauta que não toca e pelo beijo que o vento, casado com o tempo, me tiraram.
Não tenho dor, mas dói quando sou indiferente ao mundo e esquecida até pela natureza do próprio fim. Dói quando sou levada pela ventosidade até à minha casa e presencio outra família que não a minha, um futuro desenquadrado das memórias daquele lar. Dói quando as minhas lágrimas já não molham o chão e quando gostava de sangrar só para sentir que existo.
Sou o espírito que dorme, mas não sonha. Sou a pétala que as Parcas se esqueceram de levar e que o flato colheu. Sou a alma que quer morrer dentro da própria morte…

3 comentários:

Fatima Freitas disse...

Em primeiro lugar, quero referir que mais uma vez o que escreveste está LINDO e, em segundo, a "tua alma" anda mesmo num desencontro! Li o teu comentário no meu diário... O que sentes neste momento é a incerteza, a insegurança e todo o receio que todos sentimos quando uma mudança radical vem alterar as nossas vidas. O momento está a aproximar-se e, por essa razão, sentes que andas PERDIDA. Não te iludas e não te escondas, atrás desse sentimento pessimista, porque a TUA ALMA E A TUA VIDA vão, finalmente, enveredar no caminho do crescimento e da evolução. O desconhecido provoca em nós essa sensação de perda da segurança que conhecemos e sentimos, mas o porto de abrigo estará sempre lá... E eu estarei sempre aqui e onde tu quiseres, Filha da Minha Alma.

mv disse...

olá TT
tenho q confessar que li o texto ontem à noite, mas não soube o que dizer.
Está extremamente poético, é mesmo esse o teu estilo, e por isso algumas ideias sinto-as sem as compreender.
Além do mais, nem sequer tenho as referências da FF.
Já tens uma Mãe da tua alma, mas se eu puder ajudar...

TT disse...

Gostei da reação da OV ao meu texto: sentir sem compreender! Quanto à FF... palavras para quê?

Neste momento ninguém me pode ajudar. Há decisões que só nós as podemos tomar. Mas, como em todas as fases, há sempre algo a aprender. E com esta aprendi a encarar os problemas com um sorriso.

Obrigada às duas!